Pequena história de uma quase escritora


       
Meu amor pela escrita nada tem de ideal. Não conto com nenhum desses pré-requisitos básicos que um escritor, supostamente, deveria preencher. Não cresci em meio aos livros, não fui incentivada a ler desde criança, não sou entendedora das normas da língua, nunca fui leitora voraz.
Apesar desses indicadores de um prognóstico negativo, é bem verdade que na época da escola, cada vez que a professora de Língua Portuguesa ordenava que fizéssemos uma redação, me encontrava naquela excepcional situação em que você é o único a sorrir enquanto os outros choram. Na maioria das vezes, não fazia ideia de como escreveria o texto, mal sabia como começar, e tinha dificuldade em completar a composição. No entanto, desde o momento em que a ordem era proferida, até a última correção do texto, me via tomada por um entusiasmo capaz de canalizar toda a minha energia para a realização da tarefa, restando pouca libido para outros interesses.
Enquanto escrevia, escolhia com cuidado cada termo a ser utilizado, mesmo não contando com um extenso cabedal de palavras, como com as amizades, primava pelas boas, ainda que poucas. Minha escrita sempre foi mais intuitiva do que técnica, e confesso que me orgulho desse detalhe. Mas também preciso dizer que a ausência de uma história prévia de intimidade com as letras é uma lacuna que não cessa de ecoar. Como órfã de uma tradição literária que me impelisse naturalmente ao mundo da escrita, me falta um acervo de expressões ao qual lançar mão nos momentos de necessidade, um domínio da língua que me dê segurança no manejo com os vocábulos.
A falta, condição humana sine qua non, por ser vivida no interior de cada um de nós, nos faz solitários na angústia de tentar preenchê-la. Essa falta, por muito tempo, me impediu de apostar na escrita. Havia internalizado um modelo único de escritor. Não me encaixava no perfil idealizado por mim, por isso, não podia me atrever a sustentar um posto que não fui chamada a assumir. Não entendia que era essa mesma falta que me punha a escrever, que era da minha falta que falava a cada parágrafo.
Foi em busca de suprir essa falta que retornei repetidas vezes a esse lugar privilegiado de criação. Na falta de sentido, encontrei um fio com o qual tecer a minha história, contando-a e recontando-a, à maneira de metáforas de vida. E como o caminho só se faz ao caminhar, volto aqui mais uma vez, não para contar o final dessa história, mas para arriscar um novo começo, uma nova possibilidade a ser vislumbrada na minha relação peculiar com as letras.

 *Texto escrito em 2014, e que marca o início de uma transformação na minha relação com a escrita, por isso, quis que ele encabeçasse as minhas postagens aqui.

Texto: Brisa Maria Fraga
Foto: Brisa Maria Fraga

sexta-feira, 22 de junho de 2018

6 comentários:

  1. Brisa que tua caminhada como escritora seja repleto de descobertas, emoções e sucesso! Parabéns!

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  2. Um Dom divino, divinamente se concretizando,estou imensamente feliz por você.Parabéns

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    1. Muito obrigada! Que retorno lindo!! Estamos felizes!!! 😘😘

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  3. E assim nasce uma escritora. Parabéns! Sucesso!!!

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    1. Obrigada por compartilhar esse desejo e esse espaço comigo!! Vamos nos descobrindo e construindo juntas! 😘😘

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