Me descobri poeta



onde nada havia
nada esperava
não a claridade, confusão
não a lucidez, escuridão
entre o fundo e o fim
entre o abismo e o fio
me descobri poeta
quando eu nua estava
a céu aberto
ferida exposta
finda a estrada
me descobri
ali
poeta
quando a voz fraqueja
muda a palavra
mesmo embora seja
súbita, imprecisa
insana, incoerente
inesperadamente
me descobri, poeta
onde a dor não finda
e depois ainda
e ainda assim
me descobri
enfim
poeta
e se eu nada fosse
nada me restasse
restaria até
pálida, caquética
esquálida, esquelética
pobre, a rima
frágil, o sonho
escrever então
talvez, um dia
poesia



Texto: Brisa Maria Fraga
Foto: Brisa Maria Fraga
sexta-feira, 3 de agosto de 2018

2 comentários:

  1. Magnífico! Tuas palavras são tão cheias de ti mesma que emocionam.Autênticidade é tudo; Parabéns

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